Crise hídrica e suas consequências para a economia e os negócios

Data: 11/11/2014

Cláudia Martinelli*

Caro leitor, temos que ter uma conversa séria. Preciso tratar com você de um assunto que muitos tentam deixar de lado, mascará-lo como pouco importante ou, pior, rotulá-lo como conversa de “ecochato”, o que torna qualquer chance de diálogo impraticável. Nesse texto, vou falar sobre os recursos naturais e sua importância, especialmente sobre a água.
E antes de qualquer julgamento, saiba que esse assunto afeta você, os seus negócios e a todo o processo econômico.
Acredito que as consequências que estão começando a serem sentidas principalmente em São Paulo podem me ajudar a convencê-lo de que esse é um assunto muito importante, e de alto impacto na economia.
A falta de água prejudica a economia? Sim!
Segundo uma matéria no site do jornal “O Estado de São Paulo”, publicada em maio desse ano, a crise da água no Sistema Cantareira está ameaçando a indústria e fez a Rhodia parar sua produção por duas semanas na fábrica de Paulínia.
Nessa mesma matéria, o presidente da General Motors para a América do Sul nos relembra de algo muito importante: “Não é possível ter um plano B, como fizemos quando houve racionamento de energia”. Neste caso, a GM utilizou geradores, mas “com a água é diferente, não tem como gerar mais”.
A água tem um papel importantíssimo na indústria e na agricultura. No Brasil, 90% do uso desse recurso é dedicado para essas atividades. Além disso, a maior parte da nossa base energética é dependente dos nossos recursos hídricos.
Em relação ao setor de serviços, é importante lembrar que as escolhas feitas também causam impacto, ainda que menores. Um computador, por exemplo, demanda 1.500 litros de água para ser produzido.
Deixando a ideologia de lado e apelando para a racionalidade
É importante lembrar que a água nos é fornecida por um intrincado e complexo ciclo que depende da saúde de outros sistemas. As matas ciliares, que ficam a beira dos rios, permitem que essa água corra fluída e a protege de erosões, assoreamentos e contaminações.
Quanto mais limpo o ar, maior a qualidade da água que chegará aos reservatórios e cisternas. A visão limitada não cabe mais nos dias de hoje, precisamos expandi-la e entender um pouco da complexidade do mundo em que vivemos, se desejarmos continuar vivendo e fazendo negócios nele.
A forte disputa ideológica do tema, com radicalismos expressos aqui e ali, e sua aplicação política realmente cansam e acabam por diluir a atenção que deveria atrair de gente séria, que se não está preocupada com o próprio bem estar, ao menos poderia se preocupar com a escala do problema econômico que este tema representa, afetando empregos, negócios e a competitividade.
Conclusão
Finalizando, o propósito desse artigo não é acusar ou estigmatizar empreendedores e empresários, mas mostrar-lhes a grande responsabilidade que possuem ao fazerem suas escolhas. No fim das contas, todos as temos.
Feliz ou infelizmente, não podemos mais nos dar ao luxo de falar em externalidades como se elas não fossem cobrar uma “alta conta” logo ali na esquina e em pouco tempo. E quanto mais ignorarmos essas questões, maiores serão os “juros” cobrados.
* Cláudia Martinelli, especialista em Economia Sustentável e articulista da Plataforma Brasil Editorial.
(Consumidor Consciente)


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