Alternativas para aumentar o volume de água em reservatórios

Data: 29/01/2015
Fonte: Unesp – Universidade Estadual Paulista

O cenário de escassez hídrica é muito oportuno para se identificar alternativas capazes de aumentar a disponibilidade desse recurso natural insubstituível, procurando reduzir os reconhecidos efeitos adversos em situações recorrentes.


A água proveniente das chuvas pode ser armazenada em reservatórios superficiais ou subterrâneos. Sem dúvida, os aquíferos freáticos e artesianos constituem a forma mais desejável de armazenamento, pela melhor qualidade da água e nenhuma evaporação. Para tanto, a água precipitada deve se infiltrar no solo. A quantidade não infiltrada acaba escoando sobre a superfície, acumulando-se até os limites impostos nos reservatórios naturais ou desenvolvidos, ou então, integrando-se aos córregos e rios.
Para satisfazer a forma mais desejável de armazenamento, devem-se proporcionar condições favoráveis para a infiltração, as quais, infelizmente, tornam-se impraticáveis na maioria dos ambientes urbanos, quase sempre impermeabilizados. Portanto, resta a alternativa de desenvolver essas condições em ambientes naturais.


Evitar ou controlar o escoamento da água proveniente das chuvas é um princípio básico na conservação do solo e da água. Para tanto, recomenda-se, primeiramente, dissipar a energia cinética associada à precipitação das gotas, para evitar a desagregação e o arrastamento das partículas superficiais do solo, com uma densa cobertura vegetal. Existem evidências revelando que as vegetações rasteiras, densamente distribuídas na superfície, desempenham mais efetivamente essa função que as vegetações arbustivas ou arbóreas, mais espaçadas.


Atingindo a superfície, a água pode se infiltrar, desde que a intensidade de precipitação não exceda a capacidade do solo absorver água. A quantidade infiltrada que permanece retida na camada superficial torna-se disponível para a transpiração dos vegetais. Excedendo, porém, a profundidade das raízes, incorpora-se à superfície freática, onde ocorre o armazenamento e um lento escoamento subterrâneo em direção às nascentes, abastecendo continuamente os reservatórios superficiais e cursos d’água, mesmo durante longos períodos de estiagem.


A reconstituição da “mata ciliar” no entorno de reservatórios e cursos d’água, pode enfrentar algumas dificuldades operacionais. Em geral, a designação “mata” envolve a predominância de árvores e, contrariando a crença generalizada, não está comprovada a necessidade da introdução de espécies arbóreas, muitas vezes pouco adaptadas às condições das áreas de preservação. Talvez a reconstituição da vegetação natural, adaptada, já existente naquele habitat, seria suficiente para promover o aumento desejável na infiltração e a redução dos processos erosivos responsáveis pelo assoreamento. Bastaria apenas impedir a degradação dessas áreas de preservação para permitir sua recuperação espontânea.


Além disso, as espécies arbóreas conseguem manter a transpiração por maiores períodos que as espécies rasteiras, em função da maior extensão de suas raízes. Basta comparar o aspecto dessas árvores com a vegetação rasteira durante a estação seca. Raízes profundas são capazes de extrair água a maiores profundidades, contribuindo para o rebaixamento da superfície freática. Ao contrário, a vegetação de baixo porte interrompe o seu ciclo vegetativo quando a umidade é reduzida na camada superficial do solo, preservando, assim, a água existente no subsolo.


Edmar José Scaloppi é Professor Titular da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu.
Este artigo foi publicado originalmente no Estadão Noite de 27 de janeiro de 2014.






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