Parcerias produtivas para o desenvolvimento

Data: 17/04/2015
Fonte: Agência Fapesp

Uma mesa-redonda sobre experiências, desafios e mecanismos para estimular as cooperações entre empresas e universidades abriu o último dia da FAPESP Week Buenos Aires, na sexta-feira (09/04), na capital argentina.

Hugo Fragnito, professor no Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da Coordenação da Área de Física da FAPESP, falou sobre um caso de sucesso na relação universidade-empresa no Brasil, que levou ao desenvolvimento das comunicações ópticas no país.

“Campinas é chamada hoje de ‘Vale do Silício brasileiro’ por ter um importante parque tecnológico que teve origem com a fundação da Unicamp, em 1966. Seis anos depois, três pesquisadores que estavam nos Bell Laboratories, nos Estados Unidos, chegaram à Unicamp com um plano visionário. Eram Sérgio Porto, José Ripper Filho e Rogério Cerqueira Leite”, contou Fragnito.

Segundo ele, o plano tomou forma no ano seguinte, com a apresentação de uma proposta para a Telebrás – que então detinha o monopólio das comunicações no Brasil – do Programa para o Desenvolvimento de Comunicações Ópticas.

O plano reunia projetos para o desenvolvimento e a fabricação de fibras ópticas, de lasers semicondutores e de dispositivos ópticos integrados, peças necessárias para a comunicação óptica.

O programa foi aprovado em 1974 e teve início no ano seguinte. “Foi o primeiro contrato de pesquisa e desenvolvimento entre a indústria e a universidade no Brasil”, contou Fragnito.

Esse programa, que resultou na primeira fabricação de fibras ópticas no hemisfério Sul, em 1983, representa, segundo Fragnito, um exemplo notável de sucesso da relação entre empresa, centros de pesquisas e universidades.

“O modelo que adotamos é simples e linear, mas muito eficiente. A universidade fornece profissionais bem treinados e boas ideias. Um centro de pesquisa próximo à universidade entra com tecnologias que podem ser utilizadas, bem como padrões e manuais de uso. E a indústria faz o desenvolvimento final, como a miniaturização dos componentes ou a otimização dos processos de produção”, disse.

“O ponto principal desse modelo está na transferência do conhecimento. E essa transferência não envolve apenas a tecnologia, mas os próprios pesquisadores, que são contratados por quem está recebendo o conhecimento”, disse Fragnito.

Financiamento de pesquisas

Sérgio Robles Reis de Queiroz, professor no Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp, outro participante da mesa-redonda, falou sobre desafios e oportunidades na pesquisa colaborativa universidade-empresa.

“Temos observado, nos últimos anos, uma intensificação das relações entre universidades e empresas. As universidades têm, por exemplo, implantado núcleos de inovação tecnológica, as agências de inovação voltadas para promover as atividades de cooperação”, disse

“Há 15 ou 20 anos, havia uma expectativa não realista a respeito do que a universidade poderia oferecer para a empresa. Mas hoje vemos um quadro de evolução contínua dessa interação. Há uma percepção maior das diferenças do que cada um pode ou não pode oferecer”, disse

Queiroz lembrou alguns exemplos de instituições brasileiras com boa interação com o setor produtivo em diversas áreas, como os institutos Butantan e Oswaldo Cruz (em saúde), o IAC e a Embrapa (ciências agrárias), a Universidade Federal de Minas Gerais (mineração e metalurgia), CTA e ITA (engenharia aeronáutica) e Coppe-UFRJ e Unicamp (geociências, óleo e gás).

Em seguida, ressaltou que os valores investidos por empresas na pesquisa realizada nas três universidades públicas no Estado de São Paulo (Unicamp, Unesp e USP) equivalem à média verificada nas universidades dos Estados Unidos.

“Mas há muito a ser feito. Um dos desafios é ampliar o número e a diversidade de casos bem-sucedidos de interação universidade-indústria”, disse Queiroz, membro da Coordenação Adjunta - Pesquisa para Inovação da FAPESP.

Em seguida, falou sobre mecanismos existentes no Estado de São Paulo para o desenvolvimento de pesquisas colaborativas oferecidos pela FAPESP. Destacou principalmente os programas PIPE, PITE e Centro de Pesquisa em Engenharia.

“O PIPE apoia pesquisas em pequenas empresas, com até 250 funcionários. O PITE é voltado exatamente para promover a pesquisa colaborativa entre instituições do Estado de São Paulo e empresas. As empresas podem ser de qualquer lugar, desde que a pesquisa seja feita em São Paulo”, disse.

“Em 2006, foi implementada uma nova modalidade de PITE, em que a FAPESP e a empresa parceira estabelecem um acordo de cooperação para lançar chamadas conjuntas e financiar projetos de pesquisa. Isso já foi feito com companhias como Embraer, Natura, Oxiteno, Microsoft Research, PadTec, Braskem, Sabesp, Vale, ETH, Agilent, Biolab e GSK”, disse.

“Os Centros de Pesquisa em Engenharia têm um formato semelhante, mas são voltados para desafios maiores que envolvem pesquisas de longo prazo, com até 10 anos de duração. A ideia é criar centros de excelência em áreas de interesse das empresas parceiras”, disse Queiroz.

“Os primeiros Centros de Pesquisa em Engenharia estão sendo estabelecidos com as empresas Peugeot-Citroën, Natura, BG e dois centros com a GSK”, disse.

“Esses mecanismos de apoio oferecidos pela FAPESP são fundamentais para o desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil, mas não são suficientes. O grande desafio para incrementar a relação universidade-empresa está associado ao baixo nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento das empresas no Brasil”, disse.

“Este é um gargalo fundamental, pois, à medida que as empresas se engajam mais em atividades de pesquisa internas, elas também se engajam mais em atividades de pesquisa externas, colaborativas, com universidades e outros parceiros”, disse.

Exemplos argentinos

Jose Alberto Bandoni, professor do Departamento de Engenharia Química da Universidad Nacional del Sur (UNS), falou sobre a Planta Piloto de Ingeniería Química (Plapiqui), do qual é membro do Conselho Diretor.

Com sede na cidade argentina de Bahía Blanca, o Plapiqui é um instituto de pesquisa, educação e desenvolvimento de tecnologia, ligado à UNS e ao Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet).

“Plapiqui é um centro consolidado de geração de conhecimento, de transferência de tecnologia e de formação de recursos humanos. Conta com cerca de 180 integrantes, entre pesquisadores, professores, bolsistas, técnicos e pessoal administrativo”, disse Bandoni.

“Desde a sua fundação, em 1963, o instituto produziu mais de 1,2 mil trabalhos científicos e realizou mais de 500 projetos de desenvolvimento para empresas argentinas e de outros países”, disse.

Segundo Bandoni, o Plapiqui se especializou em resolver projetos não convencionais, que envolvem a geração e o desenvolvimento de conhecimentos e tecnologias, especialmente para as indústrias química, petroquímica, agrícola, alimentar e farmacêutica.

Outro participante da mesa-redonda na FAPESP Week, Carlos Ruiz, falou sobre a Soteica Visual Mesa, do qual é diretor. “A empresa foi fundada em 1984 em Buenos Aires para fornecer soluções em processos em engenharia para a indústria”, disse.

A empresa tem sede nos Estados Unidos e escritórios em Houston, Barcelona, Cidade do México, Buenos Aires, Santa Fé, Rosário e São Paulo.

O forte da Soteica está na produção de softwares para uso industrial. O quadro de desenvolvimento da empresa é composto principalmente por engenheiros, dos quais 44% têm doutorado ou mestrado.

“Esse material humano é todo formado em universidades, principalmente em instituições com as quais mantemos excelentes relações”, disse. As universidades que mais contribuem com engenheiros para a Soteica são a Universidad Nacional del Litoral e a Universidad Tecnológica Nacional, da Argentina.

A mesa-redonda foi coordenada por Aldo Vecchietti, professor da Universidad Tecnológica Nacional da Argentina.

Apresentações feitas na FAPESP Week Buenos Aires e mais informações sobre o simpósio estão em: www.fapesp.br/week2015/buenosaires.


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