Catalunha quer estimular o talento para pesquisa

Data: 29/05/2015
Fonte: Agência Fapesp
O primeiro dia da FAPESP Week Barcelona marcou também a segunda conferência anual dos institutos que formam os Centres de Recerca de Catalunya (Centros de Pesquisa da Catalunha, Cerca).

A organização foi fundada em 2010 e reúne 44 centros de pesquisa que antes operavam independentemente. Um número que tende a crescer, uma vez que o processo de agregação de centros continua, segundo Lluís Rovira, diretor do Cerca.

Rovira falou que um dos principais papéis da organização que comanda está em aproveitar o que a região tem de melhor.

“A Catalunha é conhecida por ser um local de muitos talentos e de muita criatividade, como se pode ver nos trabalhos de artistas como Miró e Gaudí ou no desempenho do F.C. Barcelona. Mas o Barcelona, além da presença marcante nos gramados, é um dos times de futebol melhor administrados no mundo. Queremos, no Cerca, unir o melhor da criatividade e da administração para o desenvolvimento do sistema de ciência e tecnologia na Catalunha”, disse.

Rovira falou em seguida sobre o crescimento da produção científica na comunidade autônoma espanhola nos últimos 20 anos. Um crescimento que foi ainda maior na pesquisa considerada de alta qualidade, como demonstrado pelo aumento na citação de artigos científicos produzidos por pesquisadores da região.

“Trata-se de um aumento acima do que foi observado na maior parte da Europa no período, o que representa uma distinção importante”, disse.

Outro destaque está no número de auxílios concedidos pelo European Research Council. Segundo Rovira, na comparação com outros países da União Europeia, as concessões para pesquisadores da região da Catalunha ocupariam o segundo lugar, logo após a Holanda.

“O desafio é continuar a crescer em um contexto no qual as mudanças são frequentes e em que tanto os novos desafios como novas oportunidades surgem a cada momento”, disse Rovira, lembrando que, apesar da crise econômica vivida pela Espanha, o orçamento total dos institutos que constituem o Cerca aumentou nos últimos três anos.

O diretor da organização ressaltou que no Horizon 2020 – programa da União Europeia que destinará € 80 bilhões para a pesquisa e a inovação de 2014 a 2020 no continente – o Cerca participa com 63 projetos, o que representa 2,62% do total.

“Isso levando em conta que apenas 25 dos 44 institutos que formam o Cerca estão envolvidos. E aqui está um ponto em que precisamos nos esforçar para melhorar: nossa participação no Horizon 2020”, disse.

Em seguida, Rovira lembrou aos participantes do evento, muitos dos quais representavam os institutos que formam o Cerca, que 14 desses institutos receberam a distinção “Human Resources Excellence in Research”, concedida pela Comissão Europeia para entidades com destaque na melhoria de suas políticas de recursos humanos em consonância com o “European Charter of Researchers” e com o “Code of Conduct for the Recruitment of Researchers”.

Outro ponto importante para o Cerca e para o futuro da ciência na Catalunha, destacado por Rovira, está no aumento do número de pesquisadoras.

“O Cerca está fortemente empenhado em aumentar a participação de mulheres na ciência. Queremos corrigir o desequilíbrio atual, de maioria masculina, e queremos mais mulheres, não apenas como pesquisadoras, mas como pesquisadoras principais e também na condução de projetos”, disse.

No panorama legal está outro ponto em que o Cerca atua para melhorar a ciência feita na Catalunha. “Temos um sistema com diversas camadas: a catalã, a espanhola e a europeia. São diferentes leis e normas com as quais temos que lidar. Precisamos adaptar melhor nossas atividades a essas realidades diferentes”, disse.

Rovira ressaltou também que é preciso lembrar que a inovação feita na Catalunha é inovação feita na Europa. “É importante dizer que uma determinada tecnologia é catalã, mas precisamos destacar que ela também é europeia”, disse.

Por fim, Rovira ressaltou a importância para o Cerca dos doadores privados que apoiam seus institutos, entre eles as fundações Bill e Melinda Gates, Celiex, La Caixa, Josep Carreras e Ester Koplowitz.

Fazer pesquisa em São Paulo

Em sua apresentação, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destacou mecanismos oferecidos pela Fundação para apoiar o intercâmbio em pesquisa, entre eles os que financiam a vinda de cientistas de outros países para o Estado de São Paulo.

Entre os exemplos citados estão o Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, o Auxílio à Pesquisa – Pesquisador Visitante, as Escolas São Paulo de Ciência Avançada e o São Paulo Excellence Chair.

Brito Cruz também contou aos presentes que o Estado de São Paulo – onde 1,6% do PIB é destinado à pesquisa e desenvolvimento, valor muito superior ao restante do país – responde por cerca de 45% da ciência produzida no Brasil, “contando-se pelo número de artigos científicos publicados em periódicos internacionais”.

“As universidades no Estado de São Paulo respondem por cerca de 45% dos doutores formados a cada ano no Brasil. Em 2013, foram perto de 6 mil doutores graduados no estado”, disse.

Brito Cruz também mencionou que o Estado de São Paulo tem uma rede de 22 institutos de pesquisa, dos quais 19 são financiados pelo governo estadual e três pelo governo federal.

O diretor científico falou sobre alguns dos programas de pesquisa mantidos pela FAPESP – como os programas de bolsas e de auxílios à pesquisa – e sobre a sistemática de análise de solicitações de propostas da FAPESP.

“Em 2014, recebemos cerca de 25 mil propostas de pesquisas e temos certo orgulho no fato de que o prazo médio para completar o processo de análise foi de 65 dias, com taxa média de sucesso de 45%”, disse.

FAPESP Week Barcelona

A FAPESP Week Barcelona continua nesta sexta-feira (29/05), no Sant Pau Art Nouveau Site, reunindo pesquisadores da Catalunha e do Estado de São Paulo em diversas áreas do conhecimento, como nanotecnologia, fotônica, genômica e saúde.

O evento realizado pela FAPESP em parceria com o Cerca terá, em seu segundo dia, apresentação de Antonio Castro Neto, diretor do Centre for Advanced 2D Materials and Graphene Research Centre da National University of Singapore e do Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Em seguida, serão apresentados trabalhos em nanotecnologia e fotônica, com Niek Hulst, do Instituto de Ciencias Fotónicas, Pablo Ordejón, diretor do Instituto de Nanociencia y Nanotecnología, Carlos Frederico de Oliveira Graeff, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Hugo Luis Fragnito, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

À tarde, os debates serão sobre genômica e saúde humana, com Luis Serrano, do Centro de Regulación Genómica, Joan Guinovart, do Instituto de Investigación Biomédica de Barcelona, Anamaria Aranha Camargo, do Centro de Oncologia Molecular do Hospital Sírio-Libanês, e Maria José Soares Mendes Giannini, da Unesp.



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